Os meningiomas são tumores originários das membranas que revestem o cérebro (meninges), e representam cerca de 36% dos tumores intra-cranianos e quase metade dos tumores benignos. São mais comuns em mulheres, e usualmente têm crescimento lendo. São geralmente benignos (mais de 90% das vezes grau I da OMS); porém, em cerca de 9% dos casos há sinais de maior agressividade biológica (graus II ou III da OMS). Em algumas condições mais raras, podem estar associados a doenças genéticas como a Neurofibromatose (tipo II), podendo ocorrer em multiplicidade.
Os meningiomas nascem das meninges cerebrais, e podem ocorrer em qualquer lugar onde haja meninge. Sua nomenclatura (classificação) depende da região onde esse tumor nasce, e sua dificuldade de tratamento cirúrgico advém em grande parte da localização e também de seu tamanho e dureza. A despeito de ser um tumor benigno, a cirurgia pode ser bastante desafiadora.
Tratamento
Cirurgia
O tratamento de eleição é cirúrgico, sempre que possível. A cirurgia objetiva a ressecção completa da lesão com a base de implante do tumor na meninge e eventualmente o tecido ósseo acometido por tumor. Ressecção completa implica em cura. Não obstante, o paciente necessita de acompanhamento com exames de imagem anuais para se detectar possível recorrência precocemente, com melhores chances de evolução favorável.
Dependendo da localização e extensão do tumor (como na base do crânio, por exemplo), expertise extra do cirurgião é necessária a fim de se ressecar a lesão com segurança. Em muitos casos, a monitorização da função cerebral ou de determinados nervos cranianos durante a cirurgia é essencial para se evitar danos a essas estruturas, o que pode causar surdez, desequilíbrio, paralisia da musculatura da mímica, paralisia da língua, dificuldade de engolir, falar, etc, etc.
Um volumoso meningioma de base de crânio (imagem branca à esquerda demonstrada na ressonância magnética), o resultado da cirurgia mostrando retirada completa da lesão na imagem do meio e a fotografia da paciente totalmente recuperada (lado direito), vivendo normalmente e sem sintomas.
Radiocirurgia
Em caso de pequenos restos tumorais após a cirurgia, ou naqueles casos onde o risco da cirurgia é estimadamente muito alto (seja por problemas de saúde do paciente ou localização profunda da lesão), pode-se tratar o tumor por meio de radiocirurgia, que é a aplicação em dose única de irradiação ionizante, de maneira não-invasiva, a fim de se controlar o crescimento do tumor. Um dos aparelhos mais modernos para esse fim é o Gama-Knife, disponível no Hcor, em São Paulo. Nessa forma de tratamento, o feixe de irradiação é direcionado ao tumor por diversos ângulos, com precisão sub-milimétrica, poupando-se as estruturas vizinhas da radiação.
Plano de tratamento radiocirúrgico para um meningioma da base do crânio, onde poupa-se as vias visuais e o tronco encefálico de doses excessivas de radiação.
Radioterapia
Para meningiomas graus II ou III, indica-se a radioterapia fracionada como forma complementar de tratamento após a cirurgia. Nessa modalidade, a radiação é aplicada em 20-30 sessões diárias, a fim de se evitar a recorrência tumoral.
Radioterapia para meningioma extenso na base do crânio.
A seguir algumas publicações de nosso grupo sobre cirurgias de meningiomas:
1: Dobrowolski S, Ebner F, Lepski G, Tatagiba M. Foramen magnum meningioma: The midline suboccipital subtonsillar approach. Clin Neurol Neurosurg. 2016 Jun;145:28-34. doi: 10.1016/j.clineuro.2016.02.027.
2: Dobrowolski S, Lepski G, Tatagiba M. Meningioma arising in the hypoglossal canal: the midline suboccipital subtonsillar approach. J Surg Case Rep. 2016 Jul 22;2016(7):rjw039. doi: 10.1093/jscr/rjw039.
3: Wayhs SY, Lepski GA, Frighetto L, Isolan GR. Petroclival meningiomas: Remaining controversies in light of minimally invasive approaches. Clin Neurol Neurosurg. 2017 Jan;152:68-75. doi: 10.1016/j.clineuro.2016.11.021.
4: Isolan GR, Wayhs SY, Lepski GA, Dini LI, Lavinsky J. Petroclival Meningiomas: Factors Determining the Choice of Approach. J Neurol Surg B Skull Base. 2018 Aug;79(4):367-378. doi: 10.1055/s-0037-1608654.
5: Lepski G, Arévalo A, Roser F, Liebsch M, Tatagiba M. Electrophysiological predictors of hearing deterioration based on AEP monitoring during petroclival meningioma resection. Neurosurg Rev. 2021 Jun;44(3):1601-1609. doi: 10.1007/s10143-020-01350-y.